Em 2005, o Brasil parou diante de uma denúncia de escala extraordinária: o escândalo do Mensalão, que envolveu o desvio de mais de R$ 100 milhões para comprar apoio político no Congresso Nacional, revelado há 20 anos.
Como um esquema dessa magnitude pôde operar no coração do poder público? Quem eram os responsáveis, e até onde chegavam os tentáculos dessa rede de corrupção? O caso abalou o governo Lula, derrubou lideranças políticas e marcou a história do país, com revelações que ecoam até hoje.
Conheça agora o Mensalão, o maior escândalo político da época.
Em uma manhã de 6 de junho de 2005, o Brasil abriu os jornais e sentiu o chão da política nacional tremer.
Roberto Jefferson, então presidente do PTB e aliado do governo Lula, sentou-se com a editora Renata Lo Prete, do Painel da Folha de S.Paulo, e revelou um esquema de corrupção impensável até então: ministros do governo Lula movimentavam milhões para irrigar os corredores do Congresso, comprando parlamentares com mesadas para conseguir a aprovação de seus projetos.
O deputado Roberto Jefferson conta que o PT e o PSDB, junto com outros partidos, articularam uma aliança para garantir apoio político no Congresso durante o governo Lula.
Segundo Jefferson, em sua entrevista à Folha de S.Paulo em 6 de junho de 2005, José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, teria coordenado negociações com lideranças do PSDB para integrar o esquema do Mensalão, oferecendo vantagens financeiras em troca de votos favoráveis a projetos do governo.
"Essa coisa de mensalão, essa transferência de dinheiro vivo para deputados, presidentes e líderes de partido para partilhar nas suas bancadas, só o PT fez isso. [...] Apostou em alugar uma base. Vamos alugar essa burguesia corrupta, dar um dinheirinho, que eles vão votar conosco.", disse o deputado Roberto Jefferson no programa Roda Viva, em 2006.
Em entrevista à Folha de São Paulo, quando denunciou o esquema, Roberto Jefferson declarou:
“Toda a pressão que recebi neste governo, como presidente do PTB, por dinheiro, foi em função desse mensalão, que contaminou a base parlamentar. Tudo o que você está vendo aí nessa queda de braço é que o mensalão tem que passar para R$ 50 mil, R$ 60 mil. Essa paralisia [do Congresso] resulta da maldição que é o mensalão.
Nunca aconteceu. Eu tenho 23 anos de mandato. Nunca antes ouvi dizer que houvesse repasse mensal para deputados federais por parte de membros do partido do governo.
É mais barato pagar o exército mercenário do que dividir o poder. É mais fácil alugar um deputado do que discutir um projeto de governo. É por isso. Quem é pago não pensa.
Depois disso [da conversa], parou. Tenho certeza de que parou, por isso está essa insatisfação aí [na base parlamentar]. Ele meteu o pé no breque. Eu vi ele muito indignado”.
Marcos Valério, tesoureiro do PT que realiza os pagamentos também revelou detalhes da corrupção.
Valério acusou o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, de ser o "aval maior" para as operações financeiras e que "sabia de tudo o que se passava".
Ele também disse ter ouvido do ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, que Dirceu tinha conhecimento dos empréstimos feitos por suas empresas para o partido:
“... o Senhor Delúbio Soares cansou de me falar que o senhor José Dirceu sabia das operações”.
Em seu depoimento à Justiça Federal, ele afirmou que a alta cúpula do partido sabia do esquema:
“Todos sabiam. Não foi só o Delúbio. O Zé Dirceu sabia, o Silvio Pereira sabia, todo mundo sabia”.
Naquele momento, Valério buscou inocentar Lula:
"Eu nunca dei nenhum centavo a nenhum Ministro, a nenhum Presidente da República."
Isso mudaria anos mais tarde. Em 2012, Valério prestou novo depoimento à Procuradoria-Geral da República, no qual disse que Lula não apenas sabia, como havia autorizado os empréstimos:
“Delúbio disse que tudo que estava sendo feito era do conhecimento e da autorização de Lula”.
Essa versão seria reforçada em 2016, em novo depoimento prestado ao Ministério Público de Minas Gerais.
Marcos Valério detalhou o envolvimento de Lula, afirmando que o presidente teria autorizado o esquema.
O publicitário foi condenado a mais de 37 anos de prisão pelos crimes de peculato, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro.
Após as investigações, foi descoberto que a corrupção acontecia da seguinte forma:
O escândalo do Mensalão resultou em condenações significativas e revelou um esquema que movimentou milhões de reais.
A Polícia Federal, o Ministério Público Federal (MPF) e o Tribunal de Contas da União (TCU) apuraram que o esquema desviou pelo menos R$ 101,6 milhões, conforme laudo de 2012.
Além disso:
Apesar de o MPF ter estimado desvios de R$ 173 milhões, a recuperação foi mínima. Apenas R$ 10 milhões haviam sido devolvidos aos cofres públicos até 2015, declarou o TCU na época.
A justificativa dada foi que ocorreram entraves jurídicos e à dissipação dos recursos.
O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou 25 pessoas na Ação Penal 470, o processo do Mensalão, em 2012.
Entre os principais condenados estavam:
Conheça os detalhes do Mensalão e suas consequências para o Brasil com o quarto episódio da série O Teatro das Tesouras. Assista abaixo:
O escândalo dos Correios eclodiu em maio de 2005, quando a revista Veja divulgou um vídeo em que Maurício Marinho, chefe do departamento de contratação dos Correios, recebia R$ 3 mil de propina para fraudar licitações, afirmando agir em nome de Roberto Jefferson, presidente do PTB [Veja, 18/05/2005].
Na mesma época, a Veja publicou uma entrevista com Lídio Duarte, presidente do IRB, que revelou que Jefferson, via corretor Henrique Brandão, exigia R$ 400 mil mensais para o PTB de indicados do partido em cargos públicos, com reuniões frequentes para cobrar “mesadas”.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Roberto Jefferson deu a entender que estava sendo colocado como bode expiatório pelo PT e PSDB para que seus integrantes saíssem em pune e os membros do PDT fossem culpados. Assim, ele denunciou o mensalão.
"O que você faz com a bomba? Ou desatina ou explode. Percebo que está evadindo o quartel, e o PTB está ficando isolado para ser explodido", disse na entrevista.
Em 6 de junho de 2005, Jefferson relatou que José Carlos Martinez, ex-presidente do PTB, recusou a oferta de Delúbio Soares, tesoureiro do PT, mas, após sua morte, deputados como José Múcio (PTB), Bispo Rodrigues (PL), Valdemar Costa Neto (PL) e Pedro Henry (PP) pressionaram pela adesão.
Jefferson disse ter alertado ministros como Walfrido Mares Guia, José Dirceu, Ciro Gomes, Antonio Palocci, Aldo Rebelo e Miro Teixeira sobre o esquema, que movimentava até R$ 3 milhões mensais.
Em conversa com Lula, na presença de ministros, Jefferson afirmou que o presidente chorou ao saber, prometendo interromper os pagamentos, o que teria causado insatisfação na base aliada [Folha de S.Paulo, 06/06/2005].
Jefferson disse acreditar que Lula não sabia do esquema de compra de votos, afirmando em 4 de agosto de 2005, que o presidente era “uma pessoa íntegra e inocente” e que foi surpreendido pelas denúncias.
Ele direcionou as acusações a José Dirceu, Delúbio Soares e outros, alegando que Dirceu, como chefe da Casa Civil, gerenciava o esquema à revelia de Lula. Em entrevista ao Roda Viva, em 2006, ele elogiou Lula como um homem do povo de história louvável.
Em 2006, no programa Roda Viva, Roberto Jefferson mudou sua visão, avisando:
“Sobretudo depois das descobertas da Lava Jato, está claro que o Lula sempre soube de tudo. Foi ele quem institucionalizou a corrupção.”
Jefferson criticou o PT, dizendo que “alugar deputados” era mais fácil que dividir poder, e lamentou ter recuado na instalação de uma CPI [Folha de S.Paulo, 06/06/2005]. Em 9 de junho, Valdemar Costa Neto, do PL, processou Jefferson por calúnia, injúria e difamação.
Muitos dos condenados no julgamento do Mensalão, que ocorreu entre 2012 e 2013, já cumpriram suas penas ou tiveram-nas extintas por indultos e decisões judiciais. Aqui está o panorama:
José Dirceu, o articulador do Mensalão, é conhecido por seu passado como guerrilheiro comunista.
Nascido em 16 de março de 1946, em Passa Quatro (MG), Dirceu mudou-se para São Paulo em 1961 para estudar e trabalhar.
Em 1966, ingressou na Ala Marighella, que depois se tornou a Ação Libertadora Nacional (ALN), um grupo armado revolucionário ligado ao Partido Comunista Brasileiro.
Em 1968, conhecido pelo codinome “Daniel”, era líder da União Estadual de Estudantes (UEE) e foi preso em Ibiúna (SP), durante o 30º Congresso da UNE, numa operação do DOPS.
Após sua saída do governo em 2005 e a condenação no Mensalão, José Dirceu enfrentou altos e baixos em sua trajetória:
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Assista o episódio de Teatro das Tesouras que analisa o mensalão:
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