Morreu neste domingo, 13 de abril, aos 89 anos, o escritor peruano Mario Vargas Llosa. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, foi um dos intelectuais mais conhecidos da América Latina neste século..
A causa da morte não foi divulgada. Seus filhos, Álvaro, Gonzalo e Morgana, informaram em comunicado que não haverá cerimônia pública e que seus restos mortais serão cremados.
Vargas Llosa deixa uma vasta obra literária e um legado político complexo, marcado por uma trajetória que foi da esquerda ao liberalismo e incluiu uma candidatura à presidência de seu país.
A política entrou cedo em sua vida: aos 12 anos, presenciou o golpe que derrubou seu tio materno, o presidente José Luis Bustamante y Rivero.
Aos 14 anos, foi enviado ao Colégio Militar Leoncio Prado, uma experiência que solidificou sua vocação para a escrita.
Estudou Direito e Literatura na Universidade de San Marcos, em Lima. Na juventude, trabalhou em jornais, foi assistente de historiador e teve um breve envolvimento com o Partido Comunista.
Em 1958, uma bolsa de estudos o levou para Madri e posteriormente passou um tempo vivendo em Paris.
Após a viagem, o autor viveu um período de dificuldades financeiras, trabalhando como professor e até como ghost writer.
Sua fama começou após a publicação de "A Cidade e os Cachorros", em 1963. A obra se baseia nos anos de Llosa no colégio militar e causou polêmicas em seu país de origem.
Oficiais do Exército peruano chegaram a queimar mais de mil cópias do livro em praça pública.
Quatro anos depois, ele se tornou um amigo próximo do escritor colombiano Gabriel García Márquez.
A amizade terminaria em 1976 após Llosa socar o rosto de Garcia durante uma briga. Os dois fizeram um acordo de cavalheiros para nunca contar o motivo ao público.
Rumores indicam que o motivo da briga seria uma suposta visita de Márquez à esposa de Llosa, Patrícia.
Especulações alegam que o colombiano pode ter falado com a esposa do amigo apenas para avisá-la sobre o estilo de vida mulherengo de Llosa, ou até ter tentado seduzi-la.
Llosa foi um entusiasta da Revolução Cubana, vendo nela a promessa de um socialismo menos autoritário. Ele chegou a ir para a Ilha como jornalista.
A ruptura veio em 1971, após o poeta dissidente Heberto Padilla ter sido forçado a confessar a promoção de “atividades subversivas” e assinar um documento se desculpando “diante da sociedade cubana”.
O episódio levou o escritor a participar de um protesto internacional de intelectuais contra Fidel Castro, o que resultou em sua proibição de retornar a Cuba.
Ele descreveu o rompimento como um momento de profunda desilusão com a esquerda comunista:
“Foi um período muito difícil para mim, porque me senti como os padres que penduram a batina e retornam à incerteza e à insegurança da sociedade secular. Descobri que a democracia não era como acreditávamos e como a esquerda comunista dizia que era.”
Vivendo em Londres nos anos 1970, Llosa foi influenciado pela ascensão de Margaret Thatcher e pelas obras de pensadores como Karl Popper e Isaiah Berlin.
Na época, passou por uma profunda conversão ideológica, passando a defender o Estado limitado e a liberdade como valor inegociável:
“Há certas ideias básicas que definem um liberal. Por exemplo, a liberdade, valor supremo, é una e indivisível, e deve atuar em todos os campos para garantir o verdadeiro progresso.”
Ele também era um defensor declarado do livre-mercado e de menos interferência estatal na economia:
“Os liberais acreditam que o Estado pequeno é mais eficiente do que o que cresce demasiado… Eles acreditam que a função do Estado não é produzir riqueza, e essa função é melhor desempenhada pela sociedade civil, num regime de livre mercado”
Ainda assim, era um duro crítico de figuras como Donald Trump e de movimentos nacionalistas como o Brexit.
Em 1987, Vargas Llosa liderou com sucesso os protestos contra a tentativa de nacionalização de bancos no Peru pelo presidente Alan García.
Após esse episódio, fundou o Movimiento Libertad, um partido liberam, e concorreu à presidência em 1990. Apesar de favorito, perdeu para Alberto Fujimori.
Após a derrota, mudou-se para Madri e prometeu não mais se envolver diretamente em eleições, mas seguiu como um ativo comentarista político.
Seu biógrafo, Pedro Cateriano, avalia que sua campanha foi uma vitória no campo das ideias.
O escritor tornou-se um crítico a ditaduras e figuras tanto de esquerda quanto de direita que ele considerava populistas, como: Chávez, Lula e Trump.
Suas posições eram complexas: defendia o liberalismo econômico, mas também pautas sociais progressistas como aborto, eutanásia e legalização das drogas.Os últimos anos de Manuel Vargas Llosa
O Prêmio Nobel de Literatura em 2010 coroou sua carreira, com a Academia Sueca destacando sua "cartografia das estruturas de poder".
Já divorciado de Julia Urquidi, casou-se com a prima Patricia Llosa, com quem teve os três filhos.
Aos 79 anos, teve um relacionamento com a socialite Isabel Preysler, que durou até 2022 e o colocou nas capas de revistas de celebridades, algo que ele antes desprezava.
Em 2022, tornou-se o primeiro autor sem obra publicada em francês a ingressar na Academia Francesa.
No ano seguinte publicou seu último romance Dedico a você meu silêncio, e encerrou sua coluna no jornal El País.
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