Com a morte do papa Francisco, a Igreja Católica entra mais uma vez no período de sede vacante, fase entre o falecimento de um pontífice e a eleição de seu sucessor.
Os olhos do mundo agora se voltam para os Cardeais, que se reunirão nos próximos dias para iniciar o conclave e eleger o 267º Papa da história.
Trata-se de um momento espiritual e decisivo, no qual os cardeais, são chamados a discernir quem será o novo Bispo de Roma e Sucessor de Pedro.
Para compreender o peso dessa escolha, é necessário recordar aqueles que já ocuparam o trono da Igreja Católica.
De mártires a reformadores, de teólogos a missionários incansáveis, cada papa marcou seu tempo e moldou a história da Igreja.
Simão, chamado Pedro por Cristo, foi um dos primeiros discípulos de Jesus. Após a ressurreição, foi confirmado por Cristo como líder visível da Igreja:
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).
Reconhecido como o primeiro papa, Pedro foi pastor da comunidade cristã de Roma, onde sofreu o martírio sob o imperador Nero.
A tradição afirma que foi crucificado de cabeça para baixo no Vaticano por não se considerar digno de morrer como seu Senhor. Seus restos mortais repousam sob o altar da Basílica de São Pedro.
O seu papel de “rocha” da Igreja e a autoridade conferida por Cristo sustentam, até hoje, o fundamento do primado do Papa na Igreja Católica.
São Lino foi o segundo Bispo de Roma e o primeiro papa sucessor de São Pedro. Segundo a tradição, foi ordenado por Pedro e assumiu o governo da Igreja logo após o martírio do Apóstolo.
É mencionado por Santo Irineu, Eusebio de Cesareia e também na liturgia da Missa, na oração chamada de Cânon Romano.
Embora poucos detalhes sejam conhecidos com precisão histórica, sua importância está no fato de ter garantido a continuidade do primado petrino em um momento delicado para a jovem Igreja.
Enfrentou perseguições do Império Romano e contribuiu para a consolidação da comunidade cristã em Roma. Lino é associado à organização da disciplina eclesiástica, especialmente em relação à participação das mulheres nos ritos públicos.
Reconhecido como um dos maiores papas da história, São Leão Magno governou a Igreja em um período crítico, marcado pelo colapso do Império Romano do Ocidente e pelas heresias que ameaçavam a fé.
Ele foi o primeiro papa a receber oficialmente o título de "Magno" (grande) e é também Doutor da Igreja, por sua profunda contribuição teológica.
Seu pontificado ficou marcado pela firmeza doutrinal e autoridade pastoral. Em 451, sua Carta ao Concílio de Calcedônia (o Tomo a Flaviano) teve papel decisivo na definição da doutrina cristã sobre a dupla natureza de Cristo: verdadeira humanidade e verdadeira divindade em uma só pessoa.
Leão também atuou como mediador político e espiritual em tempos de ameaça: em 452, foi pessoalmente ao encontro de Átila, o Huno, e o convenceu a recuar antes de invadir Roma.
Além do papel teológico e diplomático, promoveu reformas litúrgicas e administrativas, reforçando o primado da Sé de Roma como centro da cristandade.
Monge beneditino e prefeito de Roma antes de assumir o papado, Gregório I, conhecido como “Magno”, liderou a Igreja em um dos períodos mais conturbados da história europeia, logo após a queda do Império Romano do Ocidente.
Consolidou o papel espiritual e político do papado, organizando a caridade em Roma, estruturando a administração da Igreja e promovendo a evangelização da Europa, especialmente entre os anglo-saxões.
Reconhecido como Doutor da Igreja, Gregório também teve grande influência na liturgia e na espiritualidade.
Sua visão do papa como “Servo dos servos de Deus” marcou profundamente o perfil pastoral e humilde do pontífice.
Morreu em 604, sendo venerado como um dos quatro grandes Padres da Igreja Latina.
Urbano II, nascido Odo de Châtillon, foi um papa francês conhecido por convocar a Primeira Cruzada em 1095, durante o Concílio de Clermont.
Com essa convocação, procurou unir os cristãos do Ocidente em torno de uma causa comum: recuperar os lugares santos em Jerusalém, então sob domínio muçulmano.
Seu apelo “Deus vult!” (“Deus o quer!”) ecoou por toda a cristandade e deu início a uma série de expedições militares que marcariam profundamente a história medieval.
Urbano também buscou fortalecer o poder papal em meio aos conflitos com os imperadores do Sacro Império Romano-Germânico. Assim, consolidou o papel do papa como autoridade máxima na nomeação de bispos.
Além disso, defendeu reformas eclesiásticas, como o celibato clerical e o combate à simonia. Morreu em 1099, poucos dias antes da tomada de Jerusalém pelas tropas cruzadas sem saber que sua cruzada havia obtido sucesso imediato.
Urbano VIII foi eleito papa em um período de intensos conflitos políticos e religiosos na Europa. Seu pontificado foi marcado por uma forte centralização do poder papal. Além disso, envolveu-se nos desdobramentos da Guerra dos Trinta Anos.
Patrono das artes e das ciências, é lembrado por ter encomendado diversas obras no Vaticano e por ter estreitado laços com artistas como Gian Lorenzo Bernini, impulsionando o barroco romano.
No campo eclesial, promoveu reformas litúrgicas e disciplinou a organização das missões católicas no mundo.
Apesar de seu apoio ao desenvolvimento intelectual, o pontificado de Urbano VIII também ficou associado ao processo contra Galileu Galilei.
Embora tivesse inicialmente incentivado o astrônomo, foi durante seu governo que Galileu foi julgado e condenado pela Inquisição. Essa tensão entre fé e ciência se tornaria um dos episódios mais discutidos da história moderna da Igreja.
Urbano faleceu em 1644, deixando um legado importante de poder político, apoio artístico e desafios doutrinais.
Canonizado pela Igreja, Pio V foi um dos papas mais influentes do período pós-Reforma, exercendo seu pontificado em um momento crucial para o fortalecimento da identidade católica.
Foi um reformador comprometido com a aplicação dos decretos do Concílio de Trento. Reorganizou profundamente a liturgia, estabelecendo o Missal Romano de 1570, que unificou a celebração da Missa no rito latino por séculos.
Também reformou a disciplina do clero e promoveu a vida moral entre os fiéis, buscando restaurar a integridade da Igreja.
Pio V também teve papel decisivo no cenário internacional. Foi um dos responsáveis pela formação da Liga Santa, aliança entre potências católicas que culminou na vitória cristã contra os turcos otomanos na Batalha de Lepanto, em 1571.
Faleceu em 1572, sendo canonizado em 1712 por Clemente XI. Seu legado une zelo doutrinal, reforma e devoção mariana.
Pio IX foi o papa com o pontificado mais longo da história, governando a Igreja por mais de 31 anos em um período marcado por profundas transformações políticas e sociais.
Diante das revoluções europeias de 1848 e da perda dos Estados Pontifícios, assumiu uma postura mais conservadora e doutrinária.
Convocou o Concílio Vaticano I (1869–1870), que definiu solenemente o dogma da infalibilidade papal em questões de fé e moral.
Pio IX testemunhou o fim do poder temporal dos papas com a unificação da Itália e a tomada de Roma em 1870, passando a viver como “prisioneiro do Vaticano”.
Apesar das polêmicas, é lembrado por sua firmeza doutrinal e sua devoção à autoridade papal. Foi beatificado por São João Paulo II no ano 2000.
Primeiro papa não italiano em mais de quatro séculos, Karol Wojtyła foi um dos pontífices mais influentes do século XX.
Polonês, teve papel relevante na queda do comunismo no Leste Europeu, especialmente em sua terra natal, por meio de sua atuação diplomática e espiritual.
Com uma presença marcante, percorreu mais de 120 países em viagens apostólicas e reforçou o alcance global da Igreja.
João Paulo II também deixou um vasto ensinamento e promoveu o Catecismo da Igreja Católica.
Valorizou a juventude com as Jornadas Mundiais da Juventude e defendeu com vigor a dignidade da vida humana, desde a concepção até a morte natural. Foi canonizado em 2014, pelo papa Francisco.
Teólogo alemão de renome, Joseph Ratzinger foi eleito papa após a morte de João Paulo II, assumindo o nome de Bento XVI. Dedicou seu pontificado à defesa da fé católica diante dos desafios do relativismo moral, ao aprofundamento da liturgia e à promoção do diálogo entre fé e razão.
Em 2013, surpreendeu o mundo ao renunciar ao pontificado, citando falta de forças para continuar a missão. Foi o primeiro papa a renunciar em mais de 600 anos.
Após a eleição de Francisco, viveu como papa emérito no mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, até sua morte em 2022. É lembrado por sua humildade, clareza intelectual e firmeza doutrinal.
Primeiro papa latino-americano e jesuíta, nascido na Argentina. Seu pontificado foi marcado por reformas na Cúria Romana, ênfase na misericórdia e atenção aos pobres.
Publicou documentos significativos como Laudato Si’ e Fratelli Tutti. Faleceu em 21 de abril de 2025, aos 88 anos, deixando uma Igreja mais voltada ao diálogo com o mundo contemporâneo.
A sucessão de Pedro é mais que uma transição administrativa: é um momento de oração e renovação.
O próximo Papa herdará desafios complexos, da secularização ao papel da Igreja no cenário global, e será chamado a manter a fidelidade ao Evangelho enquanto conduz os católicos no século XXI.
Ontem foi ao ar o primeiro episódio do Especial Papado, no qual o professor Raphael Tonon apresenta a trajetória e o legado de Francisco.
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