Algo grave e perturbador aconteceu na filosofia, especialmente na filosofia moderna. O fenômeno da paralaxe cognitiva não é observado em Sócrates, Platão ou Aristóteles. Tampouco em Santo Agostinho ou Santo Tomás de Aquino.
Este é um fenômeno que o professor Olavo de Carvalho estudou, cuja presença pode ser facilmente identificada na filosofia de Descartes, Kant, Marx, Hume e outros.
Para entender o que é paralaxe cognitiva, é necessário compreender a noção de realidade.
O que é o mundo real?
Para responder a esta questão, o método é o mais simples, o mesmo que o dos filósofos clássicos. O mundo real é o que se apresenta aos sentidos, no qual os homens estão inseridos, vivendo dia após dia.
Todas as vezes que se faz uma afirmação sobre a realidade, a humanidade ou o conhecimento, necessariamente a afirmação inclui a pessoa real que está afirmando. Além disso, todas as circunstâncias que levam à formação do discurso também são incluídas.
Se alguém foi capaz de escrever o que escreveu, é porque teve alguma experiência.
Por exemplo, se eu der a alguém o endereço de uma pessoa conhecida, neste simples ato está se diz que conheço o endereço e que convivi com a pessoa a ponto de tê-la por conhecida; logo, ela existe.
É possível negar a realidade?
É precisamente ao negar a realidade que se insere o problema da paralaxe cognitiva; portanto, a razão destas etapas introdutórias.
Não é possível elaborar uma teoria que se aplique a todos os seres humanos, mas não a si mesmo. Um filósofo não pode se excluir do que teoriza, se sua teoria versa sobre todo o gênero humano.
Desta forma, não é possível, vivendo a realidade, excluir-se do mundo real e falar sobre a realidade.
Mesmo assim, surgiram doutrinas que:
Nada dizem sobre o mundo em que foram pensadas;
Nada dizem sobre as pessoas que as pensaram;
Tudo dizem sobre um mundo inventado no qual elas não estão.
Alguns filósofos se colocaram fora da realidade, na posição de observadores oniscientes. Por definição, somente Deus seria capaz de fazê-lo.
Ao filosofar desta forma, o universo foi colocado entre parênteses e o filósofo ficou do lado de fora, observando como se fosse Deus. Isto pode ser falado, não praticado. Eles elaboraram uma linguagem que cria a ilusão de uma realidade.
Se é para provar tudo o que se diz, não é possível começar a falar. O ponto de partida tem que ser a mesma estrutura, o real, o que é percebido. Sem evidências primárias que não exijam provas, não seria possível provar nada. Haveria sempre uma regressão.
Para começar a entender a paralaxe cognitiva, segundo o Professor Olavo de Carvalho
A paralaxe cognitiva é um erro fundamental e básico que o filósofo comete na interpretação de sua própria filosofia.
É o abandono do realismo filosófico, resumido nas seções anteriores.
O filósofo descreve a realidade do que está pensando e não o que está vendo. No extremo, nega a experiência concreta em nome de uma construção mental. Preferem acreditar em sua imaginação e não em seus olhos. O problema é que a imaginação que defendem não os inclui.
Os pensadores que incorrem em paralaxe cognitiva abstraem coisas que sabem sobre si mesmos e chegam a conclusões que desmentem sua própria existência.
Após estas considerações, será mais fácil entender o que é paralaxe cognitiva.
O que é paralaxe cognitiva?
A definição de paralaxe cognitiva, segundo o Professor Olavo de Carvalho, é: deslocamento ou afastamento entre o eixo da construção teórica e o eixo da experiência real do indivíduo que está fazendo esta construção.
O filósofo tem uma percepção, explica racionalmente o que percebeu e, em sua explicação, contradiz a percepção que gerou seu conceito. Trata-se de excluir-se do mundo real e teorizar sobre a realidade.
Qual é a consequência disto?
A experiência passa a não ser considerada para nada. O mundo real torna-se apenas o fruto de conceitos articulados e divergentes, pensamentos que negam que a experiência é real.
Finalmente, teorias que negam a realidade, tentam explicar uma realidade imaginada e que não inclui quem pensou.