No dia 2 de junho de 2025, a revista britânica Dazed, uma das publicações mais influentes do mundo em cultura, moda e lifestyle, estampou o rapper brasileiro Oruam, de 24 anos, em sua capa.
Com o título que o descreve como “a estrela em ascensão do rap brasileiro”, a matéria destaca suas letras cruas, seu estilo ousado e sua trajetória como filho de Marcinho VP, um dos líderes do Comando Vermelho (CV), facção criminosa do Rio de Janeiro.
Mas a escolha de Oruam como capa gerou uma onda de críticas no Brasil, especialmente por suas letras que glamourizam práticas ilícitas ou questionáveis. Além disso, há acusações de incitação à violência, incluindo ameaças de estupro contra a vereadora Amanda Vettorazzo.
Para o cidadão brasileiro que não acompanha de perto essas polêmicas, explicamos quem é Oruam, o que está em jogo e por que essa capa está dando o que falar.
A Brasil Paralelo investigou a relação do tráfico do RJ com a música e cultura bem como a extensão do problema no documentário Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas - toque aqui para saber mais.
Na Dazed, Oruam se apresentou como um “anti-herói” que oferece uma “visão poética da vida na favela”, destacando sua ascensão no rap e sua vida de ostentação, como morar em uma mansão na Barra da Tijuca com animais exóticos.
A revista reconhece as polêmicas, mencionando a “Lei Anti-Oruam” e sua conexão com Marcinho VP, mas foca em sua autoproclamada arte e suposto carisma.
A capa foi lançada no dia 2 de junho de 2025, data que marca os 23 anos da morte de Tim Lopes, gerou revolta por causa da tatuagem de Elias Maluco no peito de Oruam. O rapper já se pronunciou sobre o crime de Elias Maluco, que afirma ser seu “tio de consideração”.
Sobre isso, a comunicadora Nanda Xie escreveu em sua conta no X:
“Tim Lopes morreu em 2 de junho de 2002 e, em 2 de junho de 2025, a Dazed lança essa capa.
Na capa? Oruam, filho de Marcinho VP, com o busto de Elias Maluco, o assassino de Tim, cravado na pele. Um escárnio.
A barbárie virou fetiche. Aplaudem o crime como se fosse arte. É a apologia ao crime virando estética internacional. Que vergonha”.
A publicação teve mais de 50 mil curtidas. O crime de Elias contra Tim foi de uma brutalidade extraordinária: Tim foi torturado com cigarros, mutilado com uma espada de samurai enquanto ainda estava vivo e, por fim, teve o corpo queimado.
Quando Oruam foi questionado pelo jornalista Roberto Cabrini por ter tatuado um criminoso autor de crimes bárbaros, ele respondeu:
"Eu falo que eu não olho pro erro dele, sabe? Eu olho pra ele. O erro dele eu condeno, ele tá errado. Vou falar que ele tá certo? Ele tá errado. Mas eu amo ele, o que eu faço com ele?”
A Osklen, uma das marcas que inicialmente compartilhou a capa, apagou sua postagem após comentários no X acusarem a grife de negligência ética. Segundo o Metrópoles, a retirada foi interpretada como uma tentativa de evitar danos à reputação, já que o público associou a escolha de Oruam a uma romantização do crime organizado.
Marcas internacionais, como a Off-White, também recuaram.
A economista e influenciadora digital Renata Barreto foi uma das vozes que criticaram a publicação:
Segundo o Capitão Alexandre Antunes, da 1ª Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep), muitas mensagens das músicas de Oruam auxiliam uma estratégia maior do crime organizado, comparando-a a táticas de grupos insurgentes globais:
“Uma dessas frentes de atuação, dessas frentes de avanço do crime organizado, é a frente cultural. E isso não é só a característica das facções no Brasil, né? Todos os grupos insurgentes fazem isso. Então o Talibã fez isso no Afeganistão, o Hamas faz isso, o Hezbollah faz muito isso.
Tem um livro que eu recomendo, chama-se Out of the Mountains: The Coming Age of the Urban Guerrilla, do David Kilcullen. Ele anota tudo isso, ele registra tudo isso aí. E a cultura é uma frente de avanço. Então nós vemos MCs que são financiados pelo crime.”
Oruam cantou mais de uma vez em seus shows a música Na Faixa de Gaza, que diz:
“Nós desce pra pista pra fazer o assalto, mas tá fechadão no doze.
Se eu tô de Rolex, 600 argolado, perfume importado, pistola no coldre.
[...] Não somos fora da lei porque a lei quem faz é nós;
[...] Por isso eu mando assim:
Comando Vermelho, RL até o fim.
É vermelhão desde pequeninin.
Só menor bolado nas favela do baixinho".
O capitão Antunes ainda destacou que o pai de Oruam criou uma rede para criar conteúdos relacionados a cultura para promover o crime:
“Tem MC no Nordeste preso por envolvimento com a facção. Qual que era a função dele? A facção lá do Rio Grande do Norte financiava ele pra ele fazer música contra a polícia e a favor do crime. Essa era a função dele na facção.
O Marcinho VP iniciou a Academia Brasileira de Letras do Cárcere. Ele fundou uma Academia Brasileira de Letras do Cárcere, só pra difundir livros que atendam os interesses da facção”.
Milhares de mães cariocas passam o dia preocupadas se seus filhos voltarão ou não para casa. Elas também precisam estar atentas se suas crianças e adolescentes serão cooptadas pelas facções que dominam a região em que moram.
Os turistas provam um pouco dessa realidade ao chegar na cidade. A jovem Valentina Betti Simioni foi baleada por tiros de fuzil após seu pai entrar por engano no Complexo da Maré em setembro de 2024. Eles moravam na cidade de Belo Horizonte-MG e estavam no Rio de Janeiro para ir ao Consulado Americano resolver questões do visto.
Nenhum dos criminosos foram presos, uma realidade muito comum no Rio de Janeiro. A cidade tem uma das piores taxas de resolução de homicídio, com apenas 11% dos dados sendo solucionados. Engana-se quem pensa que a criminalidade reside apenas nas ruas.
Uma cidade linda, bela, conhecida por sua rica história, está à mercê do crime que se faz presente desde o controle de facções criminosas nos mototáxi nas favelas até na política partidária. Existe alguma solução para o Rio de Janeiro?
O primeiro passo é compreender o problema. A Brasil Paralelo foi até a cidade para entrevistar pessoas que combatem e vivem com o crime de perto. Uma produção arriscada, com imagens exclusivas de dentro de algumas das favelas mais perigosas do país.
Tudo isso estará disponível em nosso novo documentário “Rio de Janeiro: Paraíso em Chama”. Clique no link abaixo e garanta o seu acesso gratuito:
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