O Nepal não é um país comunista, apesar de sua política ser dominada há décadas por partidos que defendem essa ideologia.
Na manhã de hoje, o primeiro-ministro Khadga Prasad Oli (Partido Comunista do Nepal: Marxista-Leninista Unificado) renunciou ao cargo em meio a uma onda de protestos.
O motivo foi um bloqueio a 26 redes sociais, a justificativa era que as plataformas não haviam se registrado e se submetido à supervisão estatal.
A decisão fez milhares de jovens irem às ruas de Katmandu. O governo abriu fogo contra os protestos, matando 19 jovens e ferindo 400.
Depois disso, os protestos se tornaram mais agressivos, sendo marcados por ataques a prédios públicos e propriedades de políticos.
O complexo do Parlamento e casas de figuras públicas foram alvo, incluindo a residência de Oli, do presidente Ram Chandra Paudel e do ministro do Interior Ramesh Lekhak.
Desde as eleições de 2008, quando a monarquia foi abolida, partidos marxista, maoísta ou socialista têm maioria no Parlamento e no Executivo.
Atualmente, o país é governado por uma coalizão de esquerda que inclui tanto o Partido Comunista do Nepal (Unificado Marxista-Leninista) e o Partido Comunista do Nepal (Centro-Maoísta).
Entenda o que é o comunismo e quais as diferentes vertentes dessa ideologia com o épico História do Comunismo. Assista ao primeiro episódio abaixo:
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Apesar disso, o Nepal não se tornou um regime comunista. O sistema político é multipartidário, e a economia segue funcionando em moldes capitalistas.
Grande parte da economia nepalesa depende de remessas enviadas por trabalhadores no exterior.
O comunismo chegou ao Nepal no final da década de 1940, inspirado sobretudo pela Revolução Chinesa.
Em 1949, foi fundado o primeiro Partido Comunista do Nepal, sob a liderança de Pushpa Lal Shreshta, que traduziu para o Manifesto Comunista para o idioma local.
Desde então, o movimento passou por divisões e recomposições, que aconteceram no contexto global do racha entre União Soviética e China.
Nos anos 1960, o país vivia sob uma monarquia autoritária e os comunistas atuavam na clandestinidade.
Alguns grupos de linha soviética buscaram alianças com a monarquia, enquanto outros se aproximaram da China e defenderam a luta armada.
Esse ambiente deu origem a facções maoístas que, décadas mais tarde, marcariam profundamente a história do país.
Entre 1996 e 2006, o Nepal viveu uma guerra causada pelo Partido Comunista do Nepal (Maoísta).
O conflito resultou em mais de 13 mil mortos. O movimento maoísta mobilizou camponeses contra a monarquia e chegou a controlar várias áreas.
A insurgência terminou em 2006, com um acordo de paz mediado pela ONU. Pouco depois, a monarquia foi abolida por plebiscito e o país se transformou em uma República.
Os maoístas entraram na política institucional e venceram as eleições de 2008, dividindo o poder com outros partidos de esquerda.
Desde então, a esquerda nepalesa segue fragmentada. Há várias siglas comunistas disputando poder, e muitas vezes elas se unem em alianças temporárias.
Hoje, o Nepal mantém uma democracia parlamentar instável, marcada por trocas constantes de governo com 13 primeiros-ministros desde 2008.
A população, especialmente os jovens, se mostra cada vez mais frustrada com a corrupção, o desemprego e as tentativas de restringir liberdades.
Os protestos que derrubaram Khadga Prasad Oli devem causar mudanças no cenário político nacional, mas ainda é cedo para entender os impactos.
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