A morte do Papa Francisco na segunda (21) fez o interesse pelo filme Conclave disparar nos streamings.
A busca pelo filme aumentou em aproximadamente 3.200%, segundo dados da empresa Luminate.
O thriller dirigido por Edward Berger, retrata os bastidores de uma eleição fictícia para um novo papa.
A produção foca nas disputas políticas entre setores mais tradicionalistas da Igreja e cardeais com uma visão mais progressista.
Apesar de ter ganhado o Oscar de melhor roteiro adaptado e de ter sido indicado em uma série de outras categorias, o filme vem sendo criticado pela forma como aborda temas sensíveis para a Igreja.
O Padre Arnaldo Rodrigues, assessor de comunicação da CNBB, contou em uma entrevista para a CNN Brasil que o filme não deve ser interpretado como realidade:
"O filme conclave é uma ficção, então, praticamente nada ali deve ser levado em consideração em relação ao fato que realmente acontece".
Ele explica que, embora a produção mostre como funciona a votação, a maior parte se trata de imaginação, já que muito do processo acontece na votação não deixa os muros do Vaticano:
“O que acontece dentro do conclave, a portas fechadas, ninguém sabe. Nós sabemos o rito, mas não sabemos exatamente como isso acontece. O filme serve para ilustrar um pouco o que é o conclave realmente, mas se nós olharmos bem, já existem outros, filmes, mostrando um pouquinho como é essa realidade.”
De fato, o filme tem recebido elogios da crítica pela forma como retrata os pontos básicos do processo.
Os cardeais eleitores se reúnem em Roma, ficam confinados na Capela Sistina sem contato com o mundo exterior, e votam secretamente em cédulas.
A eleição do papa segue a regra da maioria de dois terços, exigindo que um candidato receba o apoio de pelo menos dois terços dos cardeais votantes.
O resultado é indicado pelo sistema de fumaça: a preta sinaliza que não houve consenso, enquanto fumaça branca anuncia a escolha de um novo Papa, o tradicional Habemus Papam (temos papa).
Outro ponto em que o filme acerta é o fato dos processos oficiais serem falados em latim, de fato as cerimônias no Vaticano acontecem no idioma.
Além disso, a existência de tensões entre diferentes alas, apesar da trama ter exagerado esse ponto, como afirma o padre Michelino durante sua participação no podcast Inteligência LTDA:
“Progressista e conservador são perspectivas ideológicas que não se aplicam não dá para colocar em uma caixinha… No filme isso aparece de uma forma muito exagerada… Existem cardeais com pontos de vista doutrinários diferentes, mas a missão do Papa é manter a unidade de todo mundo.”
O padre destaca que uma das personagens não poderia participar do filme. Um dos motivos é o fato dele ter sido nomeado cardeal in pectore (em segredo).
Apesar de religiosos poderem ser nomeados dessa forma pelo papa, eles só podem participar de um conclave se forem revelados antes da morte do pontífice, o que não acontece no filme.
Além disso, ao final do conclave é revelado que o cardeal eleito papa escondia um segredo.
Apesar de ter nascido com aparência e genitais masculinas, ele descobriu que possuía órgãos internos femininos após passar por uma cirurgia no apêndice.
Isso significa que se tratava de uma pessoa intersexo ou hermafrodita, com características dos dois sexos.
No filme, o cardeal conta que chegou a pedir para deixar o sacerdócio ao papa, que recusou o pedido e ofereceu uma cirurgia para retirar o útero. O cardeal decidiu não passar pela cirurgia.
Sobre essa questão, a revista jesuíta dos EUA America Magazine questionou o Dr. Kurt Martens, advogado leigo especializado em direito canônico.
Ele explicou que a Igreja não diz nada especificamente sobre pessoas na situação do Cardeal, e que, portanto, caberia a especialistas determinar se a pessoa é apta para ser ordenada.
“Será que é pelos cromossomos que se determina se alguém é homem ou mulher? Ou pelo fato de ter certos atributos?… Essa é a questão canônica e teológica… É uma questão interessante. Não tenho uma resposta definitiva para você.”, afirmou.
O filme exagera no drama, criando reviravoltas e conspirações que dificilmente aconteceriam de forma tão escancarada.
O padre Michelino conta que Dom Odilo Scherer contou em entrevistas que o clima em um conclave de verdade é muito diferente do retratado no filme:
“Nas entrevistas que Dom Odilo deu a respeito… ele fala do clima, é um clima de oração. Uma busca de discernimento. Não é o que a gente vê no filme… Não é essa coisa tensa, essa disputa pelo poder. O filme exagera como fosse uma eleição qualquer de um bando de pessoas que buscam o poder pelo poder.”
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