A Fatwa histórica que abriu portas (e criou outras barreiras)
A política do Irã sobre esse assunto tem origem em 1987, quando o líder da revolução islâmica, Aiatolá Ruhollah Khomeini, assinou um decreto religioso conhecido como fatwa
A decisão foi influenciada pela história de Maryam Khatoon Molkara, uma mulher trans que conta ter sofrido em uma instituição psiquiátrica.
Molkara conseguiu uma audiência com Khomeini e o convenceu de que sua condição era uma "doença" e não uma perversão.
Comovido pela história, Khomeini emitiu o decreto que legalizou a cirurgia e endossou direitos para pessoas trans.
Além da cirurgia, Molkara buscava ser reconhecida como mulher pelo Estado, com uma nova documentação legal.
Essa política transformou o Irã em um centro para a redesignação de sexo, ficando apenas atrás da Tailândia em número de cirurgias desse tipo.
O paradoxo Iraniano: "cura" para a transgeneridade, repressão para a homossexualidade
Apesar da legalização, obter a permissão e o apoio governamental, a cirurgia é um processo difícil, que pode levar "vários anos".
Exige consentimento para visitas domiciliares, testes de virgindade, aconselhamento obrigatório, exames físicos e psicológicos invasivos por instituições ligadas ao Judiciário.
O processo envolve idas a médicos e tribunais para determinar se a pessoa atende aos critérios para o diagnóstico iraniano de disforia de gênero.
Questionários aplicados por psicólogos de clínicas de Teerã, por exemplo, investigam detalhes como:
- sonhos sexuais,
- se o "cross-dressing" excita sexualmente,
- histórico de abuso sexual,
- se o paciente cresceu em "lar chefiado por mulheres" e
- se há "outros desvios sexuais".
A transição é uma "obrigação legal"
Durante entrevista para o Business Insider, uma mulher trans que se recusa a fazer a cirurgia chamada Raha Ajoudani disse que a cirurgia é uma obrigação legal:
"A lâmina cirúrgica é uma obrigação legal para pessoas trans. Ou você se submete, ou é completamente privado de seus direitos civis, e é exatamente isso que fizeram comigo."
Como ele não passou pelo prcedimento, poderia ser punido pelo crime de homossexualidade caso pelo pelas autroidades do país.
Pessoas que se identificam como gays ou lésbicas são frequentemente pressionadas por psicólogos e familiares a passarem pela cirurgia como forma de "curar" e escapar de punições, segundo matéria da BBC.
A baixa qualidade das cirurgias e a vida em sociedade
Apesar de ser um centro para cirurgias de redesignação, a qualidade dos procedimentos no Irã é questionada por especialistas e pacientes.
Há poucos cirurgiões treinados, e muitos pacientes sofrem com complicações graves e permanentes.
Relatos incluem sangramentos severos, infecções, cicatrizes profundas e órgãos sexuais com formato anormal.
Soheil, um iraniano que se submeteu a cirurgias em um hospital público em Karaj, disse ao Business Insider que seu corpo foi "danificado" e ficou com uma "grande cicatriz" no peito.
"Eles fazem uma cirurgia lixo, lixo." Soheil, que vive como refugiado no Canadá, espera por cirurgias corretivas.
A Vida Após a Cirurgia: Longe do "Paraíso Trans"
Mesmo após a cirurgia e o reconhecimento legal da nova identidade, a vida para pessoas trans no Irã está repleta de problemas, como afirma matéria da DW.
Elas enfrentam bullying, violência doméstica e social, discriminação em emprego e moradia, já que a lei iraniana não as protege contra crimes de ódio.
Muitos jovens trans que se assumem são deserdados por suas famílias ou forçados a casamentos arranjados se não fizeram a cirurgia.
A "polícia da moralidade" iraniana, patrulha espaços públicos em busca de vestimentas ou comportamentos considerados não islâmicos.
Muitos trans que não se parecem completamente com seus sexos mesmo após a transição acabam detidos pelas autoridades.
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