As tensões entre Venezuela e Estados Unidos ganharam um novo capítulo nos últimos meses. Washington acusa o presidente Nicolás Maduro de chefiar o chamado Cartel de los Soles, uma rede criminosa associada ao narcotráfico e à corrupção estatal.
A denúncia foi feita pelo Departamento de Justiça dos EUA. Segundo as autoridades, Maduro e membros do alto escalão da política venezuelana estão no centro de um dos maiores esquemas de drogas do continente.
A origem do Cartel remonta aos anos 1990, quando investigadores apontaram a participação de oficiais da Guarda Nacional da Venezuela no tráfico de cocaína em cooperação com grupos armados.
Os generais usavam insígnias em forma de sol em suas fardas. Daí surgiu a expressão “Cartel de los Soles”, usada para descrever militares que se aproveitaram do aparato estatal para controlar rotas e fronteiras.
No início dos anos 2000, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, com apoio dos Estados Unidos, intensificou o combate contra grupos armados em seu país. Parte dessas organizações se deslocou para a fronteira com a Venezuela, levando também operações ligadas ao narcotráfico.
Já na Venezuela, uma tentativa de golpe afastou Hugo Chávez do poder por cerca de 47 horas. Ao retornar, ele reforçou sua aliança com os militares, entre os quais estavam setores investigados por colaboração com traficantes.
De acordo com documentos da Justiça americana, foi nesse período que o Cartel de los Soles passou a articular parcerias com grupos armados da Colômbia, como as Farc.
Com o tempo, militares venezuelanos não apenas cobrariam propinas, mas também atuariam no transporte, armazenamento e venda da cocaína.
Segundo o portal Insight Crime, à medida que a quantidade de cocaína fluindo pela Venezuela aumentava, cresciam também as evidências de que altos membros do governo Chávez facilitavam ou participavam diretamente do tráfico.
Com a morte de Chávez, em 2013, e a chegada de Nicolás Maduro, o papel do Cartel de los Soles passou a ser o de usar o narcotráfico como forma de sustentar o governo.
Hoje, o termo “Cartel de los Soles” não se refere apenas a uma rede comandada por militares e políticos chavistas, mas a um sistema regulado por eles.
De acordo com o portal, os militares participariam do tráfico de quatro maneiras:
O portal aponta que, em alguns casos, esses esforços são coordenados por células organizadas do tráfico ligadas a oficiais militares. Em outros, partem de oficiais de baixa patente, que repassam parte de seus ganhos aos superiores.
Além de Maduro, outros nomes de influência aparecem em investigações internacionais.
A acusação é que eles formavam uma rede que controlava tanto o fluxo de drogas quanto a repressão interna.
Para o governo americano, a magnitude do esquema é comparável à de grandes cartéis mexicanos. A diferença é que, no caso venezuelano, haveria envolvimento direto do Estado.
A estimativa é que centenas de toneladas de cocaína tenham sido enviadas ao exterior com a ajuda das autoridades. Isso teria rendido bilhões de dólares em lucros, alimentando tanto o regime quanto aliados regionais
A acusação formal contra Maduro foi apresentada em março de 2020. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou recompensas milionárias por informações que levassem à prisão do presidente e de seus aliados mais próximos.
Pelo próprio Maduro, a oferta chegou a US$ 50 milhões, o equivalente a cerca de R$ 270 milhões.
O secretário de Justiça da época, William Barr, afirmou que “os Estados Unidos não permitirão que essas autoridades venezuelanas corruptas utilizem o sistema bancário americano para transferir seus recursos ilícitos da América do Sul nem para fomentar seus esquemas criminosos.”
Para os EUA, Maduro teria usado o narcotráfico como forma de consolidar poder e financiar a permanência de seu regime.
Os investigadores dizem que o cartel operava como uma engrenagem oficial. Oficiais do Exército e da Guarda Nacional controlavam aeroportos, portos e fronteiras. A partir dali, facilitavam o carregamento de cocaína produzida na Colômbia.
Em troca, recebiam dinheiro, armas e apoio de grupos criminosos. Essa relação de conveniência, segundo Washington, teria se tornado política de Estado.
Maduro rejeitou todas as acusações. Em discursos públicos, classificou as denúncias como uma ofensiva imperialista. Disse ainda que os EUA tentam justificar novas sanções para sufocar a economia venezuelana.
Mesmo assim, as denúncias tiveram impacto real. Desde 2019, os EUA reforçaram sanções econômicas contra Caracas, congelaram ativos no exterior e ampliaram a pressão diplomática.
O objetivo declarado era enfraquecer Maduro e apoiar a oposição liderada por Juan Guaidó, reconhecido por Washington como presidente interino por um período.
O cartel também se tornou peça central na geopolítica da região. Para os Estados Unidos, a rede simboliza a fusão entre crime organizado e aparato estatal. Isso dificulta qualquer negociação política.
Afinal, parte da acusação é que Maduro depende do cartel não apenas para obter recursos, mas também para garantir lealdade militar. Esse elo reforçaria sua permanência no poder mesmo em meio a crises econômicas e protestos populares.
Além de Maduro, vários nomes de sua cúpula aparecem em investigações internacionais.
A acusação é que eles formavam uma rede que controlava tanto o fluxo de drogas quanto a repressão interna.
Para o governo americano, a magnitude do esquema é comparável à de grandes cartéis mexicanos. A diferença é que, no caso venezuelano, haveria envolvimento direto do Estado.
A estimativa é que centenas de toneladas de cocaína tenham sido enviadas ao exterior com a conivência das autoridades. Isso teria rendido bilhões de dólares em lucros, alimentando tanto o regime quanto aliados regionais.
Os vínculos com a Colômbia são um ponto central da denúncia. As Farc, durante décadas, foram um dos principais grupos produtores de cocaína do mundo. Com apoio de militares venezuelanos, puderam usar o território vizinho como rota segura de exportação
Um ex-magistrado venezuelano, Luis Velásquez Alvaray, afirmou que o Cartel de los Soles teria financiado a campanha de Gustavo Petro, atual presidente da Colômbia, por meio do clã Torres, com o objetivo de articular cartéis do narcotráfico.
Em meio às tensões, Petro declarou que uma eventual invasão dos Estados Unidos à Venezuela poderia arrastar a Colômbia para dentro do conflito e transformar a região em “uma nova Síria”.
Do lado venezuelano, Nicolás Maduro reagiu ao cerco americano com medidas militares e declarações públicas. Reuniu-se com chefes do Exército, proibiu o uso de drones no país e convocou exercícios de defesa envolvendo civis e militares.
Em pronunciamento, disse que “o império enlouqueceu e renovou suas ameaças à paz e à tranquilidade da Venezuela”.
Os EUA reagiram com medidas práticas. Além das sanções econômicas, reforçaram a presença militar no Caribe para interceptar carregamentos de drogas.
A iniciativa faz parte da estratégia de Trump de classificar cartéis latino-americanos como organizações terroristas estrangeiras. Em fevereiro, ele incluiu o grupo venezuelano Tren de Aragua, seis facções mexicanas e a gangue MS-13, de El Salvador, nessa lista.
Além dos três navios, USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson, foram deslocados aviões espiões, um submarino de ataque e outros recursos militares para o Caribe.
O objetivo é impedir que drogas, como o fentanil, cheguem aos EUA.
“Para uma operação voltada a prender ou até eliminar Maduro. Em resumo, trata-se de eliminar politicamente Maduro e preparar uma mudança de regime, com uma transição controlada e, de preferência, eleições conduzidas internamente”, afirmou o cientista político Adriano Gianturco.
Além de convocar as milícias bolivarianas, criadas por Hugo Chávez em 2005, Maduro anunciou que vai distribuir armas e mísseis a trabalhadores e camponeses.
Também suspendeu o uso de drones no país, medida adotada após a tentativa de assassinato sofrida em 2018, quando um equipamento carregado de explosivos explodiu próximo ao palanque presidencial.
O governo venezuelano afirma que a acusação de narcotráfico feita por Washington é uma forma de justificar “ameaças e agressões” contra o país.
As relações entre EUA e Venezuela estão rompidas desde 2019, quando Trump deixou de reconhecer a legitimidade das eleições de Maduro e apoiou o opositor Juan Guaidó. Desde então, Caracas foi alvo de sanções por Washington.
Neste mês, a Casa Branca dobrou para US$50 milhões, cerca de R$274 milhões, a recompensa pela captura de Maduro, acusado de chefiar o chamado Cartel dos Sóis, ligado ao tráfico internacional de cocaína.
O Departamento de Justiça dos EUA afirma que foram apreendidos cerca de R$3,83 bilhões em bens de Maduro, incluindo mansões, jatos e contas bancárias.
Apesar da escalada, analistas consideram improvável uma interveção militar direta. Trump não sinalizou intenção de promover uma mudança de regime.
No entanto, deixou aberta a possibilidade caso Maduro provoque novos incidentes, como a disputa territorial com a Guiana pelo Essequibo.
Para Gianturco, o país precisará de apoio internacional para escapar do regime autoritário:
“A população sozinha não consegue remover Maduro. É necessário apoio externo. Mas esse apoio precisa ser o mais brando possível, porque quanto maior a intervenção, mais visível ela se torna e maiores os problemas que pode gerar”.
O impasse mantém a região em alerta. De um lado, os Estados Unidos ampliam a pressão com presença militar e sanções econômicas. Do outro, Maduro aposta na mobilização interna para reforçar seu controle.
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