A última reportagem de Tim Lopes
Na noite de 2 de junho de 2002, a Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, vibrava com o som de um baile funk. Em meio à multidão, Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes, movia-se com discrição.
Aos 51 anos, o repórter da TV Globo carregava uma microcâmera escondida na cintura, pronto para documentar a exploração sexual de menores e o tráfico de drogas.
Era mais uma missão em sua carreira dedicada a expor injustiças. Mas aquela noite seria diferente. Identificado por traficantes, Tim foi capturado, torturado e assassinado. Seu corpo foi incinerado no cruel método “micro-ondas”, em que a pessoa é queimada viva. No entanto, só seria identificado semanas depois.
O crime, orquestrado pelo traficante Elias Maluco, tornou-se um marco sombrio na história do jornalismo brasileiro.
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Um jornalista acostumado a se disfarçar para se infiltrar
Tim Lopes não era um estranho às comunidades que investigava. Nascido em Pelotas, Rio Grande do Sul, cresceu na favela da Mangueira, no Rio de Janeiro, onde desenvolveu um olhar sensível para as desigualdades.

Gaúcho radicado no Rio, ele tinha o que muitos chamavam de estereótipo carioca.
Apaixonado por samba, escreveu uma matéria sobre a Estação Primeira de Mangueira tão elogiada que Carlos Cachaça, um dos fundadores da escola, a considerou “o melhor material” já produzido sobre a agremiação.
Torcedor fervoroso do Vasco da Gama, Tim amava futebol, uma paixão que o levou à revista Placar. Sua personalidade carismática o permitia transitar entre o Leblon e as favelas, nunca esquecendo suas raízes na Mangueira, onde aprendeu a ouvir as vozes das comunidades que mais tarde retrataria em suas reportagens.
Formado em jornalismo pela Faculdade Hélio Alonso (FACHA), Tim começou na revista Domingo Ilustrada, do jornalista Samuel Wainer, onde ganhou o apelido “Tim” por sua semelhança com Tim Maia. Sua carreira de mais de 30 anos incluiu passagens por Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, O Dia e Placar, onde venceu o Prêmio Abril de Jornalismo em 1985 (“Tricolor de Coração”) e 1986 (“Amizade sem Limite”).
Na TV Globo, consolidou-se como repórter investigativo, mergulhando em realidades diversas:
- trabalhou como pedreiro para denunciar condições precárias em obras do metrô;
- fingiu ser dependente químico para expor abusos em clínicas;
- viveu nas ruas para retratar menores abandonados.
“Tim tinha a peculiaridade de vivenciar os personagens das suas matérias”, destacou Alexandre Medeiros, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Em 2001, o jornalista foi premiado como o Esso, o mais importante prêmio do jornalismo brasileiro. A reportagem com a série “Feira das Drogas” foi exibida no Jornal Nacional em 3 de agosto. Nela, com uma câmera escondida, flagrou traficantes vendendo cocaína e desfilando armados na favela da Grota, no Complexo do Alemão.
A matéria pressionou autoridades, mas atraiu a ira de criminosos, como Cláudio Orlando do Nascimento, o Ratinho, preso após ser filmado. Essa coragem, que o levou a enfrentar o tráfico de frente, selaria seu destino.
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