O Dalai Lama, líder espiritual do budismo tibetano, deu a entender que seu sucessor será nomeado para dar continuidade à sua luta pela liberdade do Tibete.
A declaração foi feita durante o início das celebrações de seu aniversário de 90 anos, em seu local de exílio no norte da Índia.
Vestido com sua tradicional túnica vermelha e amarela, o líder espiritual apareceu diante de milhares de seguidores de todo o mundo, reunidos em seu mosteiro em McLeod Ganj.
"Tenho 90 anos, mas ainda estou em boa forma física… Pelo tempo que me resta, continuarei me dedicando, na medida do possível, ao bem-estar dos outros."
Em seguida, ele sinalizou que um dos pontos altos das celebrações, que ocorrerão ao longo da semana, será a discussão sobre o futuro da instituição:
"Haverá um enquadramento no qual poderemos discutir sobre a perpetuação da instituição do dalai lama."
Embora o Dalai Lama já tenha sugerido que poderia ser o último de sua linhagem, a maioria dos tibetanos parece favorável à continuidade do "ciclo de reencarnação".
Como disse à AFP Sakina Batt, uma ex-funcionária pública que viajou do Nepal para as celebrações:
"O ciclo de reencarnação de Sua Santidade deve continuar. O futuro dos tibetanos depende de sua unidade e de sua resiliência."
Quando um Dalai Lama morre, os monges tibetanos começam a buscar sinais deixados na encarnação anterior.
A partir das revelações, eles começam uma grande rede de buscas em vilarejos isolados.
Crianças nascidas no ano seguinte são observadas com atenção. As que demonstram algo "especial" são testadas com objetos da vida anterior do líder budista.
Não é raro que reconheçam itens do antigo Dalai Lama. Assim foi com Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama.
Descoberto aos dois anos em uma família de camponeses, ele apontou com precisão para pertences de seu antecessor.
Mais de 80 anos depois, ele continua sendo a figura espiritual mais influente do budismo tibetano – e uma pedra no sapato do Partido Comunista Chinês.
A questão da sucessão do Dalai Lama é crucial para a comunidade Tibetana e se tornou uma disputa geopolítica.
O governo chinês, que invadiu o Tibete em 1950, considera o Dalai Lama um "separatista perigoso" e afirma que tem o direito de escolher seu sucessor.
O objetivo de Pequim é nomear um novo Dalai Lama que seja alinhado aos seus interesses, para assim consolidar seu controle sobre o Tibete.
O atual líder espiritual já descartou a possibilidade de que o 15º Dalai Lama seja nomeado pela China.
Ele prometeu publicamente que seu sucessor será uma pessoa nascida no "mundo livre", provavelmente na Índia, onde ele vive exilado desde que fugiu da repressão chinesa em 1959.
A vice-presidente do parlamento tibetano, Dolma Tsering Teykhang, afirmou que a “China está tentando se apropriar desta instituição para seus fins políticos".
O precedente do Panchen Lama
Os tibetanos temem que a China repita o que fez em 1995.
Naquele ano, o governo chinês sequestrou um menino de 6 anos que o Dalai Lama havia acabado de designar como o Panchen Lama, a segunda figura religiosa mais importante do Tibete.
Em seu lugar, Pequim nomeou seu próprio candidato, que é rejeitado pelos tibetanos como o "falso Panchen".
O Dalai Lama é considerado por seus fiéis como a 14ª reencarnação de uma posição que existe há cerca de 600 anos.
Tenzin Gyatso, seu nome civil, nasceu em 1935 e foi reconhecido como a reencarnação de seu predecessor aos dois anos de idade, como manda a tradição budista tibetana.
Ele foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1989 por sua luta pacífica pela autonomia do Tibete.
Em 2011, em uma mudança histórica, o Dalai Lama renunciou ao seu poder político, transferindo-o para um governo tibetano no exílio.
O poder é eleito democraticamente pelos cerca de 130 mil tibetanos que vivem na diáspora.
Essa decisão encerrou uma tradição de 368 anos em que o Dalai Lama era o chefe espiritual e também o líder político dos tibetanos.
As celebrações dos 90 anos do Dalai Lama, que contam com a presença de líderes budistas e personalidades como o ator Richard Gere, são marcadas pela incerteza sobre o futuro.
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