Pesquisadora já lançou livro sobre o lado supersticioso de Clarice Lispector
A vida espiritual da autora chegou a inspirar livros e trabalhos acadêmicos ao redor do mundo.
A pesquisadora canadense Claire Varin foi a primeira da academia a investigar esse lado de Clarice em seu livro Línguas de fogo, lançado em 1980.
Para escrever a obra, a canadense não apenas analisou os escritos da autora, como também entrevistou familiares e amigos sobre questões como o judaísmo e a superstição na vida da escritora.
Varin descobriu idas a cartomantes, consultas ao livro de filosofia chinesa I Ching, e até uma obsessão cabalística por números:
“Dá sete espaços para teu parágrafo, sete. Depois, tenta não passar da página 13”, a autora costumava pedir para as datilógrafas.
Clarisse foi ao Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria, em 1975
Um dos pontos levantados pela pesquisadora e mencionados por Mariana Valente foi a participação de Clarice em um evento sobre ocultismo.
Em janeiro de 1975, Clarice Lispector recebeu uma carta de Simón González, empresário e místico colombiano, convidando-a para o Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria.
“Reunir pessoas de todas as esferas da vida profundamente interessadas no estudo dos poderes interiores do homem e das forças ocultas do universo para além do alcance dos cinco sentidos” descrevia a carta.
Clarice aceitou o convite e viajou para participar do congresso na cidade de Bogotá, Colômbia.
O evento reuniu milhares de pessoas do mundo inteiro, de homeopatas a praticantes de vodu, muitos levaram vassouras enormes.
Além das discussões sobre o oculto, o evento abriu espaço para um mercado, onde era possível comprar poções, unguentos, talismãs, cartas mágicas e outros produtos espalhados em mais de 300 barracas.
Algumas figuras conhecidas participaram do evento, como foi o caso do ilusionista israelense Uri Geller, conhecido por entortar colheres “com o poder da mente”.
Um dos momentos mais marcantes do evento aconteceu quando Clarice leu o conto O Ovo e a Galinha.
No texto que Clarice leu antes de começar o conto, ela ressaltou: “na verdade acho que o contato com o sobrenatural deve ser feito em silêncio, em uma profunda meditação”.
A autora também comentou acreditar que a inspiração para a arte em todas as suas formas tem algo de mágico, apesar de não se tratar diretamente de algo “sobrenatural”:
“Não creio que a inspiração venha de fora para dentro, de forças sobrenaturais. Suponho que ela emerge do mais profundo ‘eu’ de uma pessoa, do mais profundo inconsciente individual, coletivo e cósmico”.
Durante muitos anos, os acadêmicos que estudavam as obras de Clarice e sua trajetória ignoravam esses fatos.
Atualmente, o lado místico da autora é reconhecido e explorado em diversos trabalhos e artigos.
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