Ludwig Von Mises ficou conhecido na história como um dos principais nomes da Escola Austríaca de Economia. Formado em Direito e Economia pela Universidade de Viena, Mises se debruçou no estudo sobre Economia e Filosofia Política.
Para Ludwig Von Mises, a economia de mercado é o melhor método para definir a alocação de recursos e garantir a satisfação da população.
Por exemplo: Em uma economia de mercado, os preços dos carros, pães, aço, trigo e trabalho são determinados pela oferta e demanda.
Se os consumidores desejam mais carros, o preço dos carros aumenta, incentivando as empresas a produzirem mais carros.
O sistema de preços ajuda a alocar recursos de forma eficiente, direcionando-os para onde são mais valorizados pelos consumidores. Em um sistema socialista, os recursos são alocados de acordo com os planos e a vontade do governo, prejudicando a satisfação das pessoas.
Suas teorias não se limitam à Economia, mas abordam aspectos filosóficos e políticos da vida humana.
Mises também argumentou que o liberalismo é moralmente superior aos demais sistemas sociais devido à liberdade que traz aos indivíduos, especialmente a possibilidade de escolherem o tipo de vida que quiserem.
Por esses e outros motivos mais técnicos das ciências econômicas, Mises foi um ferrenho opositor do socialismo e do comunismo.
Dentre os alunos de Mises estão vencedores do Nobel de Economia e presidentes das maiores potências do mundo.
Conheça agora a vida e o pensamento de Ludwig Von Mises.
Ludwig von Mises nasceu em 29 de setembro de 1881, em Lviv. Na época, o território fazia parte do Império Austro-Húngaro, mas hoje corresponde à Ucrânia.
Ele veio de uma família judia, sendo o filho mais velho de dois irmãos e de uma meio-irmã, afirma o livro Mises: The Last Knight of Liberalism (Mises: O Último Cavaleiro do Liberalismo, em tradução livre), de Jörg Guido Hülsmann (2007).
Sua família tinha sido elevada à pequena nobreza da Áustria pelo imperador Francisco José I alguns anos antes. O título veio como reconhecimento ao trabalho de comerciante realizado pelo bisavô de Ludwig.
O pai de Ludwig, Arthur Edler von Mises, trabalhava como engenheiro ferroviário, o que proporcionava à família um status confortável dentro da sociedade.
A mãe de Mises, Adele Landau, era parte de uma família que priorizava a educação e a cultura, o que influenciou profundamente o ambiente em que Ludwig e seus irmãos cresceram.
Aos 12 anos, Ludwig falava fluentemente alemão, polonês e francês, lia em latim e entendia o ucraniano.
Desde cedo, demonstrou um interesse aguçado por questões econômicas e sociais impulsionado pelo ambiente intelectualmente estimulante de sua casa.
Em 1900, a família se mudou para Viena, onde Ludwig começaria sua trajetória intelectual na Universidade da cidade, estudando Direito e Economia.
Desde que ingressou na Universidade, Mises mergulhou nos trabalhos de economistas da Escola Austríaca. Foi nesse momento que ele conheceu duas de suas principais referências teóricas: Carl Menger e Eugen von Böhm-Bawerk.
Mises se torna conselheiro do governo para assuntos econômicos
Após concluir seus estudos em 1907, ele começou a trabalhar em análises econômicas para a Câmara Austríaca do Comércio. Esse período foi crucial para o desenvolvimento de suas ideias sobre o funcionamento da economia e os problemas do socialismo.
Ao trabalhar com o governo, o economista percebeu que as investidas estatais na economia geravam diversos efeitos colaterais, como inflação, desbalanço dos preços do mercado, desemprego e outros.
Observando esse cenário, Mises percebeu que a moeda fiduciária era um dos principais problemas da modernidade. Nesse tipo de moeda, o governo pode imprimir dinheiro o quanto quiser.
Imprimir dinheiro sem um aumento correspondente na produção de bens e serviços leva à inflação porque aumenta a quantidade de dinheiro em circulação, sem que haja mais produtos para comprar.
Isso resulta em um desequilíbrio entre oferta e demanda, onde o excesso de dinheiro persegue uma quantidade limitada de bens, elevando os preços.
A inflação surge quando o valor de cada unidade monetária diminui, fazendo com que o poder de compra da moeda caia, ou seja, mais dinheiro é necessário para comprar a mesma quantidade de produtos.
Antes da modernidade, grande parte das moedas eram lastreadas no ouro. Isso fazia com que o governo ou as casas de moeda não pudessem emitir dinheiro para além da quantidade de ouro que possuíam.
No livro Notes and Recollections, Mises chegou a pedir pelo retorno ao padrão-ouro na Áustria-Hungria, mas teve seu pedido negado. Murray Rothbard afirmou que a negativa poderia estar ligada a esquemas de corrupção de membros do Banco Central.
O economista Jörg Guido Hülsmann afirma que Mises amava seu país, servindo na Câmara de Comércio e sendo um profundo conhecedor da cultura austríaca, mas ele odiava o militarismo e a veneração ao Estado.
Mesmo assim, Mises não se recusou a lutar pelo seu país quando foi convocado para participar da Primeira Guerra Mundial.
Mises lutou na Primeira Guerra Mundial
Ele serviu no 30º regimento de canhões, tendo por principal missão lutar contra os russos.
Mises em uniforme militar. Fonte da foto: Instituto Mises (EUA).
Foram meses de violência e condições sub-humanas de vida. Seu regimento tinha que conviver com a chuva, lama e falta de itens básicos de sobrevivência. Constantemente era necessário que o regimento mudasse de posição, mesmo em meio a péssimas condições.
Como a burocracia do exército demorava a aprovar novos envios de roupas e outros itens básicos, Mises foi atrás do que era necessário pedindo novas provisões para sua mãe, lembrou no livro Nation, State, and Economy, p. 166.
O regimento recebeu itens como remédios, roupas, sapatos, bebidas e cigarros. Em uma carta de 1917, Louis Sommer comentou sobre seu amigo Mises durante a guerra:
"Um defensor do individualismo, você preza orientações notavelmente coletivistas. Na verdade, mesmo sob forte pressão para o seu corpo e total falta de conforto individual, você nunca perde de vista o quadro geral".
Após a guerra, Mises comentou como o controle estatal prejudicou a Áustria no livro Nation, State, and Economy:
"Os canhões com os quais a artilharia de campanha austro-húngara entrou em guerra eram muito inferiores; os obuseiros pesados e leves e os canhões de montanha já estavam desatualizados no momento da sua introdução e mal satisfaziam as exigências mais modestas.
Essas armas vieram de fábricas estatais; e agora a indústria privada, que em tempos de paz tinha sido excluída do fornecimento de armas de campanha e de montanha e só podia fornecer esse material à China e à Turquia, não só tinha de produzir o material para a expansão da artilharia; além disso, ainda teve que substituir os modelos inutilizáveis das baterias antigas por outras melhores.
As coisas não foram muito diferentes com as roupas e calçados das tropas austro-húngaras".
Mises conseguiu sobreviver à guerra e foi mandado para casa em 1915, devido a um ferimento no quadril. Em 1916, ele foi ordenado a voltar para a guerra, lutando na Itália.
Sua bravura e dedicação na guerra lhe rendeu a medalha de honra signum laudis em prata. O imperador o elogiou, fato que foi noticiado na imprensa Newsflash Ödenburger Zeitung (Sopron) de 28 de novembro de 1915:
"Nossos heróis. O bem conhecido e querido Tenente da Reserva Dr. Ludwig Edler von Mises, na vida civil um professor não remunerado na Universidade de Viena, e atualmente estacionado em nosso Trigésimo, foi novamente homenageado com o Signum Laudis em prata por seus esforços notáveis perante o inimigo".
Ludwig Von Mises participa do reerguimento da Áustria
Após a guerra, ele retornou à Viena, onde continuou seu trabalho na Câmara de Comércio e sua atividade docente na Universidade de Viena.
A vida de Mises estava fluindo na Áustria até 1938, quando o regime nazista anexou seu país.
Com medo de perseguição devido a sua ascendência judaica, Mises se mudou para a Suíça, onde lecionou na Universidade de Genebra e depois, em 1940, emigrou para os Estados Unidos com o financiamento da Fundação Rockefeller.
Foi nos EUA que Mises se estabeleceu e ficou até o fim de sua vida. Com o financiamento da Fundação William Volker, ele se juntou à faculdade New York University como professor visitante, posição que manteve até sua aposentadoria.
Em Nova York, Mises continuou a escrever e a lecionar. Produzindo algumas de suas obras mais importantes, como Ação Humana (1949) que é considerada seu livro mais importante.
Ele também se tornou uma figura central no movimento libertário nos Estados Unidos, influenciando uma nova geração de economistas e pensadores políticos, como Friedrich Hayek, Murray Rothbard e o cientista político Eric Voegelin.
Vida pessoal
Mises casou-se com Margit Serény em 1938, pouco antes de emigrar para os Estados Unidos. O casal não teve filhos. Margit escreveu uma biografia de Mises, publicada após sua morte, oferecendo uma visão íntima de sua vida, suas lutas e seu legado.
Mises nunca praticou religião, tendo denominado-se agnóstico.
Ludwig von Mises faleceu em 10 de outubro de 1973, em Nova York, deixando um legado que ganha cada vez mais influência no campo da economia e da filosofia política.
O pensamento de Ludwig Von Mises
Algumas das principais teorias e ideias de Mises são:
Praxeologia;
Solução do problema da natureza do dinheiro contra os argumentos socialistas do político Helfferich;
As 6 lições de Mises - defesa do capitalismo contra o socialismo;
Defesa moral da liberdade individual;
Praxeologia
A Praxeologia é a grande teoria de Ludwig Von Mises. Sua teoria estuda a ação humana e seu comportamento para fazer análises econômicas, diferente de muitas correntes da época que se baseavam em estatísticas.
A premissa da praxeologia afrima que as ações humanas são intencionais e dirigidas a objetivos.
Para Mises, a economia é uma ciência social que deve ser entendida através do estudo da ação humana, não apenas de estatísticas e médias.
Os fundamentos da Praxeologia são:
Ação Humana;
Individualismo Metodológico;
Racionalidade;
Causalidade e Teleologia;
Análises a priori.
Ação Humana
No coração da praxeologia está a ação humana, definida por Mises como qualquer comportamento intencional dirigido a alcançar um determinado fim. A ação humana é motivada pela insatisfação com o estado atual e pelo desejo de melhorar essa condição.
Os indivíduos agem com o propósito de substituir uma situação menos satisfatória por uma mais satisfatória, usando os meios à sua disposição.
Individualismo Metodológico
A praxeologia adota o individualismo metodológico, o que significa que ela analisa fenômenos sociais e econômicos a partir das ações e escolhas dos indivíduos.
Para Mises, os eventos sociais são o resultado das ações de muitos indivíduos, cada um agindo com base em seus próprios conhecimentos, experiências e preferências.
Racionalidade
A praxeologia parte do princípio de que os seres humanos agem de maneira racional, no sentido de que suas ações são dirigidas a alcançar objetivos específicos.
Isso não significa que as ações sejam sempre "corretas" ou "eficientes" do ponto de vista de um observador externo, mas sim que os indivíduos agem com a intenção de atingir seus objetivos, dados seus conhecimentos e crenças.
Causalidade e Teleologia
A praxeologia reconhece a causalidade nas ações humanas, onde as ações são vistas como causadas pelos propósitos e objetivos dos indivíduos. Ela também é teleológica, no sentido de que as ações são orientadas para fins ou objetivos.
Análises a priori
Mises argumenta que os fundamentos da praxeologia são a priori, ou seja, são conceitos que não derivam de estatísticas, mas de conhecimentos psicológicos. Por exemplo, a noção de que os seres humanos agem com propósito é considerada um axioma a priori.
Implicações da Praxeologia
A Praxeologia trouxe diversas implicações para o debate sobre a Economia. Algumas das principais foram:
Foco da Análise Econômica: A Praxeologia fornece a base para a análise econômica dentro da Escola Austríaca, enfocando como os indivíduos fazem escolhas sob condições de escassez. Ela permite a análise de como as ações individuais levam à formação de mercados, preços e a alocação de recursos.
Crítica ao Empirismo na Economia: Mises critica abordagens estritamente empíricas ou estatísticas na economia, argumentando que tais métodos não podem capturar adequadamente a natureza intencional e subjetiva da ação humana. Para ele, a economia deve se basear em leis teóricas derivadas da compreensão da ação humana.
Política e Intervencionismo: A Praxeologia também tem implicações para a política econômica e o intervencionismo estatal. Mises argumenta que as intervenções no mercado muitas vezes falham em alcançar seus objetivos pretendidos porque não levam em conta a complexidade das ações humanas e as consequências não intencionais que tais intervenções podem gerar.
Em resumo, a Praxeologia é uma abordagem metodológica que busca entender a economia e os fenômenos sociais através do estudo da ação humana intencional. Ela é central para a filosofia e análise econômica da Escola Austríaca contemporânea, oferecendo uma perspectiva única sobre a natureza da economia e da sociedade.
Solução do problema da natureza do dinheiro contra os argumentos socialistas do político Helfferich
Para entender o desafio de Helfferich a Ludwig Von Mises, é necessário antes entender o pensamento econômico de Mises, já que Helfferich o desafiou devido a suas publicações sobre Economia.
Para Ludwig Von Mises, a economia precisa ser livre para funcionar tanto em termos econômicos como morais. Ele afirma que a economia de mercado seria o melhor método para definir a alocação de recursos e a satisfação da população.
Por exemplo: em uma economia de mercado, os preços dos carros, pães, aço, trigo e trabalho são determinados pela oferta e demanda.
Se os consumidores desejam mais carros, o preço dos carros aumenta, incentivando as empresas a produzir mais carros e, possivelmente, menos pães.
O sistema de preços ajuda a alocar recursos de forma eficiente, direcionando-os para onde são mais valorizados pelos consumidores. Cada pessoa usa de seu dinheiro como quiser, mostrando aos empresários o que vale mais a pena produzir.
Em um sistema socialista, os recursos são alocados de acordo com os planos e a vontade do governo.
O desafio de Helfferich
Observando sua posição, o economista Karl Helfferich fez um desafio a Mises: a tese do "dinheiro de quitação" poderia resolver o problema da realocação de recursos em uma economia socialista.
Helfferich sugeriu que, mesmo sem um mercado real, um sistema de "dinheiro de quitação" poderia ser usado para simular um sistema de preços socialista. O governo poderia atribuir valores em dinheiro de quitação aos carros, pães, aço, trigo e trabalho.
Esses valores seriam usados para calcular a eficiência e alocar recursos. Por exemplo, se o governo atribuísse um valor mais alto ao trigo do que ao aço, ele poderia analisar os resultados e realocar os recursos se necessário.
Os dados indicariam uma preferência por produzir mais pães do que carros, orientando a população sobre o que produzir.
O site do Instituto Rothbard detalhou que a argumentação de Helfferich ainda abordava um assunto pouco desenvolvido na Escola Austríaca de Economia: a teoria do dinheiro. Helfferich tentou favorecer a economia socialista com a seguinte argumentação:
"A natureza diferenciada do dinheiro é a de que ele não é consumido, mas usado apenas como meio de troca para facilitar as trocas no mercado. O dinheiro, portanto, só é demandado no mercado porque tem um poder de compra pré-existente, ou valor ou preço no mercado".
Para responder esse desafio, Mises publicou seu primeiro livro: A Teoria do Dinheiro e do Crédito. Ele buscou refutar Helfferich em várias frentes, fundamentando sua argumentação em princípios praxeológicos e na teoria austríaca do dinheiro e do crédito.
Alguns dos principais pontos da refutação de Mises foram:
Natureza do Dinheiro: Mises argumentou que o valor do dinheiro não deriva de um decreto estatal, mas da sua aceitação pelos indivíduos no mercado. O valor do dinheiro, portanto, está intrinsecamente ligado à sua aceitação e uso nas transações econômicas, não simplesmente à sua emissão controlada pelo Estado.
Problema da Inflação: Contra a noção de Helfferich de que o Estado poderia controlar eficazmente a emissão de papel-moeda para evitar a inflação, Mises destacou a tendência histórica dos governos de abusar da impressão de dinheiro para financiar gastos excessivos, levando inevitavelmente à inflação. Mises argumentou que a inflação resultante da expansão monetária reduz o poder de compra do dinheiro, prejudicando a economia e a sociedade.
Função do Lastro: Mises defendeu a importância do lastro em metal precioso, como o ouro, no sistema monetário. O lastro limita a capacidade do Estado de expandir arbitrariamente a oferta de dinheiro, servindo como uma proteção contra a inflação. O padrão ouro, segundo Mises, proporciona uma base estável para o valor do dinheiro, garantindo a confiança na moeda e facilitando o comércio internacional.
Confiança e Estabilidade Monetária: Mises enfatizou que a confiança na moeda é crucial para a estabilidade econômica. Um sistema baseado exclusivamente no papel-moeda, sem um lastro físico, é vulnerável a crises de confiança, podendo levar a uma rejeição da moeda e a uma crise monetária. O lastro em metal precioso ajuda a manter a confiança na moeda, assegurando sua aceitação a longo prazo.
Fundamentos Econômicos vs. Controle Estatal: Finalmente, Mises argumentou que a estabilidade e o valor do dinheiro devem ser fundamentados em princípios econômicos sólidos, e não na capacidade do Estado de controlar a oferta de dinheiro. A intervenção estatal na economia, especialmente no sistema monetário, tende a distorcer os sinais de mercado, levando a desequilíbrios econômicos e crises.
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