Boné do MST
Embora não haja um registro exato do momento em que o boné foi oficialmente adotado, sua popularização está intimamente ligada à consolidação da identidade visual do MST, que inclui a bandeira vermelha, o hino, a lona preta dos acampamentos e o facão como símbolo de luta e trabalho no campo.
O boné, geralmente vermelho com o logotipo do MST (um círculo contendo o mapa do Brasil, um casal de camponeses com um facão e a inscrição "Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra"), foi escolhido por sua praticidade e visibilidade.
No contexto rural, o boné é um item funcional, protegendo os trabalhadores do sol durante ocupações, marchas e atividades no campo. Sua cor vermelha, assim como a da bandeira, remete ao sangue dos trabalhadores rurais mortos na luta pela terra.
Simbolismo do Boné
O boné do MST é carregado de significados que refletem os princípios e objetivos do movimento:
- Identidade Coletiva: O boné é um marcador de pertencimento ao MST. Para os militantes, usá-lo é uma forma de afirmar a identidade de "Sem Terra", um termo que vai além da condição de não possuir terra e abrange uma consciência política e cultural de luta pela reforma agrária e por uma sociedade mais justa. Como destaca Roseli Salete Caldart, o termo "Sem Terra" representa uma "herança histórica" de contestação social, e o boné reforça essa identidade coletiva.
- Identidade socialista: o MST milita abertamente em prol do comunismo. Em seu site, o movimento diz:
“MST fala de socialismo, divulga as obras de Marx e dos marxismos; defende alimento orgânico e sem veneno; é a grande parede contra o agronegócio e seus negócios venenosos. Isso tudo significa que o MST não é só uma organização de esquerda que vive num mundo teórico ou numa bolha de abstrações inócuas. Trata-se de uma organização que impõe respeito internacional”.
- Prática e Funcionalidade: Além do simbolismo político, o boné é um item prático para os trabalhadores rurais, que passam longas horas sob o sol em acampamentos, ocupações e manifestações. Ele se tornou um uniforme não oficial, unindo visualmente os militantes durante ações coletivas.
Uso e Difusão do Boné
O boné do MST é utilizado em diversos contextos, tanto pelos membros do movimento quanto por apoiadores:
- No campo: nos acampamentos e assentamentos, o boné é amplamente usado por trabalhadores rurais durante atividades cotidianas, como plantio, colheita e reuniões. Ele também é comum em ocupações de terras improdutivas, marchas e protestos, onde serve como um símbolo de unidade e visibilidade.
- Na cidade: O boné ultrapassou os limites do campo e ganhou popularidade em áreas urbanas, especialmente entre jovens, ativistas, estudantes e simpatizantes de causas de esquerda. Ele é frequentemente visto em manifestações, eventos culturais e feiras de produtos orgânicos, como a Feira Nacional da Reforma Agrária.
- Comercialização: a venda desses itens é uma estratégia de arrecadação de fundos, ajudando a sustentar as atividades do MST, como ocupações, cooperativas e ações solidárias.
- Símbolo de apoio político: mesmo pessoas que não são militantes do MST usam o boné como forma de expressar apoio à reforma agrária e à luta política do MST. Em 2022, o movimento esclareceu em suas redes sociais que o boné "é pra todo mundo".
Polêmicas e Críticas
O boné do MST, como outros símbolos do movimento, não escapa de polêmicas, especialmente em um país polarizado como o Brasil. Algumas questões recorrentes incluem:
Associação com radicalismo
O boné, por sua cor vermelha e conexão com o socialismo, é alvo de críticas que associam o MST às invasões de terra cometidas pelo movimento e a sua agenda anti-capitalista. Em janeiro de 2024, avançou na Câmara um projeto que classifica o MST como organização terrorista.
Críticos do MST, como os deputados Paulo Bilinsky e Ricardo Salles afirmam que o MST é uma organização criminosa voltada a praticar uma revolução violenta no Brasil.
Alguns dos dados apontados são:
O MST afirma realizar ocupações em conformidade com a lei, mas existem casos de invasões a fazendas produtivas em situação jurídica regular e destruição de patrimônio público e particular.
A revista Exame listou alguns dos casos de invasão e destruição mais emblemáticos do MST:
- Destruição da fábrica de agrodefensivos em Taquari, Rio Grande do Sul - cerca de 800 mulheres membros do MST invadiram as fábricas da ADAMA e DURATEX e destruíram quase toda produção, tendo pichado diversas frases contra o agronegócio e os agrodefensivos;
- Destruição a fábrica de celulose Aracruz (hoje Fibria) - membros do MST destruíram mais de 50 mil mudas de árvores nativas e 1 milhão de mudas de eucalipto, causando um prejuízo de 880 mil reais;